A maioria dos Investidores sensatos em acções deseja preservar o capital e obter uma rentabilidade adequada do investimento (entre 10%-20% ao ano, diria eu), seja por via do crescimento do capital (vendendo acima do preço de compra), seja por via dos dividendos.
Os dividendos são partes do lucro distribuídas aos donos das empresas, os accionistas.
Se o accionista receber um dividendo por acção de $1 e a empresa custar $20, a rentabilidade do dividendo (o yield ou dividend yield) corresponde a 5% ($1/$20).
Teoricamente, quanto mais alto for o preço da acção, mais baixo é o yield, e vice-versa.
Os dividendos não mentem
Contrariamente à informação que consta do balanço ou da demonstração de resultados, que indica o valor do património ou dos lucros da empresa, os dividendos não mentem.
As demonstrações financeiras estão sujeitas, por vezes, a critérios de avaliação subjectivos, a pressupostos jurídicos que variam de país para país, a cálculos difíceis de realizar (mesmo pelas próprias empresas) e até à fraude, e os seus valores podem pecar tanto por excesso, como por defeito.
Quantos não ouviram já falar do caso da Enron…
… ou, mais recentemente, da Kraft Heinz Company?
Kraft Heinz encontra erro milionário em balanços financeiros
Um dos propósitos do Investidor Prudente é procurar BOAS EMPRESAS, identificando critérios de qualificação que permitam separar o trigo do joio.
Todos os investidores prudentes preocupam-se, certamente, com a segurança do capital investido, pois o dinheiro custa a ganhar (por regra), e não existe melhor indicador quantitativo (provavelmente) do que um bom histórico de pagamentos crescentes e ininterruptos de dividendos.
Só na Bolsa americana, há mais de 700 empresas que pagam dividendos constantes há pelo menos 25 anos, tendo estas companhias passado por vários ciclos económicos, recessões, crises internas, entre outras.
Rebentou a bolha das empresas tecnológicas em 2000 e o mundo financeiro em 2008, mas os accionistas do McDonalds continuaram a receber os seus dividendos, ano após ano, e de forma crescente, como se nada tivesse acontecido:
Aristocracia e realeza
Estas são algumas das maiores empresas que pagam dividendos constantes há mais de 25 anos (algumas são aristocratas):
E, há umas semanas, foram aqui publicadas várias análises a empresas boas pagadoras de dividendos, tais como a Watsco, a Fastenal, a Pfizer e o McDonalds.
Dividendos? Bahhhhh….
Mas dizem – Ahhhh, ninguém na Bolsa quer saber de dividendos; são fortemente tributados e rendem quase nada.
Pois… mas as empresas que pagam dividendos sustentáveis, constantes e crescentes no longo prazo têm negócios, em grande parte dos casos, com vantagens competitivas duradouras, tendem a recuperar mais rapidamente dos bear markets (mercados de queda) e sofrem menos volatilidade.
Em suma: são um importante indicador de qualidade. Além disso, o dividend yield ajuda a estabelecer critérios de valorização.
Já explico…
Valorização e qualidade
Cada empresa tem o seu perfil de valorização. Por exemplo, um yield de 2% é considerado alto nas acções da Apple, mas extremamente baixo nas acções da EDP.
Cada uma destas empresas tende, ao longo dos vários ciclos económicos, a transaccionar dentro de uma certa amplitude, sendo por isso possível identificar no yield as zonas onde a acção é considerada “barata” e “cara”. E se o dividendo cresce, a acção também tenderá a crescer:
E quando as coisas correm mal?
Lembram-se do caso da Boeing, que após o início da pandemia suspendeu o pagamento do dividendo que os accionistas recebiam desde 1942?
Quem comprou a bons preços, em 2016-2017, não perdeu dinheiro:
Investir com sucesso não depende de conhecimentos científicos avançados, mas disciplina e paciência, além de uma procura por qualidade (comprando boas empresas com bons rendimentos) e valor (a bons preços).
Há certamente excelentes empresas que não pagam dividendos (como a Google, Berkshire Hathaway, etc.) e existem outros critérios igualmente relevantes (tais como os índices de endividamento, o retorno sobre o capital, o negócio em si, etc.), mas não podemos ignorar que, de facto, os dividendos importam.