Foi-me sugerida uma análise à Vodafone, uma empresa cuja acção está há 20 anos a cair. Chegamos ao fundo?
1. Apresentação
A Vodafone Group (NASDAQ: VOD; ISIN: US92857W3088), que está cotada na bolsa de Londres e nos EUA (Nasdaq)…
… é uma empresa multinacional britânica de telecomunicações que opera na Ásia, África, Europa e Oceania.
A origem da Vodafone começou em 1981 com a Racal Strategic Radio, uma subsidiária da Racal Electronics, a maior fabricante britânica de tecnologia de rádio militar, que formou uma joint venture com a Millicom (uma empresa de telecomunicações) e deu origem à actual Vodafone.
Hoje, a Vodafone opera redes móveis e fixas em 17 países e tem participações noutros 5 países por meio das suas joint ventures e associadas. Também tem parcerias com outras redes móveis em 46 países fora da sua área de actuação.
A companhia tem mais de 323 milhões de clientes, 104 mil colaboradores, 9 mil fornecedores e clientes corporativos em 150 países. Além disso, possui uma ampla rede de telecomunicações, é líder no segmento B2B e IoT, é líder no mercado africano e tem uma marca fortemente reconhecida em todos os mercados onde opera.
Os seus segmentos incluem o negócio orientado ao consumidor (vodafone), ao mercado corporativo (vodafone business) e ao mercado africano (vodacom)…
… mas o mais relevante em termos de receita é o negócio de telecomunicações na Alemanha:
Como já iremos ver, a Vodafone está em processo de reestruturação, pois o seu sector é um dos mais difíceis, apresentando recorrentemente baixos retornos sobre o capital e, por conseguinte, baixos retornos accionistas:
2. Principais Accionistas
O maior accionista da Vodafone é o fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos…
… que tem 14% de participação, mas que pretende adquirir uma participação até 25%:
Maior acionista da Vodafone quer reforçar participação até 25% do capital
3. Gráfico de Longo Prazo e Dividendos
A acção já caiu quase 90%, desde a máxima verificada em Março de 2000…
… embora não tenha deixado de pagar dividendos, que começaram a apresentar uma tendência descendente mais consistente a partir de 2012:
O dividend yield actual é de 10%.
4. Evolução do Número de Acções e Valor de Mercado
Nas últimas duas décadas tem havido algumas recompras de acções próprias:
5. Informação Financeira
Após 2012, a receita começou cair, estando actualmente no valor mais baixo dos últimos 20 anos…
… e o resultado líquido tem vários anos de prejuízos:
As margens de lucro são muito baixas…
- Margem bruta (5y): 32%
- Margem líquida (5y): 0,1%
… tal como o retorno sobre o capital:
- ROE (5y): 0,1%
- ROCE (5y): 5%
O rácio de endividamento (Net Debt / EBITDA) tem crescido e está actualmente nos 3,18x, o que não é muito animador.
6. Desenvolvimento
A Vodafone vai entrar num ciclo de mudança, com a nova CEO, Margherita Della Valle (que, pelos vistos, tem muita experiência no sector):
Estive a ver a sua apresentação do novo roadmap (eufemismo que algumas empresas usam para designar “reestruturação”) e fiquei a conhecer as suas prioridades: “clientes, simplicidade e crescimento”. Não encontrei lá os “accionistas”. Sabemos que a Vodafone quer implementar mudanças estratégicas importantes para alcançar a ambição de ser a best-in-class telco in Europe & Africa e a Europe’s leading platform for Business. A ideia é mudar o foco do mercado de consumo para algo mais balanceado (Business + Consumer), simplificar a sua estrutura corporativa e optimizar a alocação de capital.
A estratégia parece-me muito difícil de executar, mas teremos de esperar para ver se vai trazer efeitos positivos. Os analistas não estão muito optimistas:
A remuneração dos accionistas em forma de dividendos e buybacks corresponde a $1,42 por acção…
… resultando num elevado yield de 15%. No entanto, se os dividendos por acção continuarem a cair, o yield on cost (que é a remuneração futura em função do preço pago actualmente) poderá baixar.
7. Conclusão
Considerando os reinvestimento dos dividendos, quem há 20 anos comprou acções da Vodafone obteve uma rentabilidade de apenas 67,39% (ou 2,22% ao ano). Estes cálculos estão disponíveis no próprio site da Vodafone Group:
A falta de crescimento, a elevada competição, os elevados custos de capital e a remuneração dos accionistas provocaram uma diminuição do capital próprio nos últimos 20 anos, que actualmente corresponde a $25 por acção. Além disso, o price-to-book está num dos patamares mais baixos da sua história (0,38x):
É difícil saber se esta tendência negativa vai cessar e se o processo de reestruturação vai dar frutos. Logo, não podemos afirmar que a Vodafone bateu no fundo.
Por não ter elevados retornos sobre o capital e um histórico recente de crescimento de resultados, vamos excluir a Vodafone do Prudente, mas quem acredita no potencial da empresa a muito longo prazo tem aqui uma acção de elevado yield com um grande desconto face ao capital próprio.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
2 respostas
Depois de analisada a Vodafone gostaria quando fosse possível que se desse uma vista de olhos na nossa vizinha espanhola Telefonica.
Parece-me ser uma melhor opção que a Vodafone.
Continuação de um bom trabalho.
Olá, Paulo.
Já foi – https://investidorprudente.com/empresa/telefonica/