Bom dia, caro investidor.
O banco U.S. Bancorp, que vale quase $50 B, caiu para níveis de valorização próximos aos da crise do subprime…
… e faz parte desta lista de empresas que pagam dividendos consecutivos há, pelo menos, 20 anos:
Será que temos aqui uma oportunidade?
1. Apresentação
O U.S. Bancorp (NYSE: USB; ISIN: US9029733048) é o 9º maior banco cotado em bolsa dos Estado Unidos da América.
Fundado em 1968, o banco possui 2.494 agências em 26 Estados, 4.505 ATM’s, principalmente no centro-oeste dos Estados Unidos, $587 B de activos e aproximadamente 76.646 funcionários. Detém várias subsidiárias, como o US Bank, um dos maior bancos americanos, e a Elavon, uma empresa de processamento de transações com cartão de crédito.
No entanto, a sua origem histórica remonta a 1891, quando foi estabelecido como “United States National Bank of Portland”, tendo posteriormente mudado de nome, após várias fusões e aquisições. A última aquisição ocorreu no final do ano passado – a do Union Bank:
Em Maio e Junho deste ano, as contas de depósitos, créditos e os cartões do Union Bank começaram a ser integradas no U.S. Bancorp, mas ainda falta transferir as contas de investimento.
A maioria dos depósitos são do segmento de consumer banking…
… e a maioria são depósitos com seguro:
Na parte do crédito temos:
- $135,6 B de crédito comercial ($9,5 B do Union Bank);
- $55,6 B de crédito comercial imobiliário ($15,3 do Union Bank) – 59% hipotecário, 21% para construção e 20% de imóveis ocupados;
- $116,3 B de crédito residencial imobiliário ($26,3 do Union Bank);
- $25,6 B do segmento de cartões de crédito;
- $53,6 de outros créditos orientados ao retalho (como o crédito automóvel):
A receita dos serviços de investimento e dos serviços de pagamentos…
– Card revenue improved 6.5% YoY driven by sales growth and partially offset by lower prepaid activity.
– Merchant processing fee revenue increased 6.6% YoY driven by sales growth.
– Corporate Payments fee revenue increased 19.6% driven by sales growth; Corporate T&E recovered over pre-pandemic levels at 105%.
… também são muito relevantes:
2. Principais Accionistas
Entre os maiores accionistas temos os fundos do costume – Vanguard, BlackRock e SSGA:
3. Gráfico de Longo Prazo e Dividendos
A acção já costuma dar uns valentes tombos, mas acabou sempre por subir:
O banco paga dividendos crescentes desde 2010 e dividendos ininterruptos há mais de 40 anos:
O dividend yield é muito bom:
Dividend Yield (ttm) = 6,2%
4. Evolução do Número de Acções e Valor de Mercado
Além dos dividendos, os accionistas têm sido remunerados também pela via das recompras de acções próprias, que provocaram uma diminuição do número de acções em circulação:
5. Informação Financeira
A receita está no máximo histórico…
… mas o lucro líquido tem desacelerado na última década:
As margens de lucro estão próximas às do seu sector…
- Margem financeira líquida (5y): 3,1%
- Margem líquida (5y): 30%
… bem como o retorno sobre o capital próprio:
- ROE (5y): 13%
During the past 13 years, U.S. Bancorp’s highest ROE % was 14.74%. The lowest was 9.45%. And the median was 13.28%.
De acordo com os dados do Statista (de Janeiro de 2023), o U.S. Bancorp não detinha o melhor CET1 ratio, entre os maiores bancos americanos:
Published by Statista Research Department, Jan 3, 2023
E a aquisição do Union Bank agravou a posição…
… tendo provococado uma queda no O CET1:
O capital próprio por acção subiu ligeiramente (está perto da cotação actual = $30), mas o CET1 actual caiu de 9,8% (em 1Q2022) para 8,5%, o crédito malparado aumentou e o NPA ratio subiu de 0,25% para 0,30%…
… embora esteja abaixo da média dos bancos americanos:
6. Desenvolvimento
A fuga massiva dos depósitos dos bancos regionais esteve na origem da falência de alguns bancos, como o Silicon Valley Bank e o First Republic…
First Republic: a segunda maior falência de sempre de um banco nos EUA
… mas isto poderá favorecer os maiores bancos, como explicou bem o Fernando Ulrich (não o banqueiro português, mas o economista brasileiro da Escola Austríaca e conselheiro do Instituto Mises Brasil):
O U.S. Bancorp não parece sofrer de crise de liquidez, considerando os seus bons rácios de liquidez e a avaliação das agências de rating…
… e os analistas não estão muito pessimistas. Prevêem até um ligeiro crescimento dos resultados até 2025:
A remuneração dos accionistas em forma de dividendos e buybacks corresponde a $2,63 por acção…
… proporcionando um óptimo yield de 8,6%.
7. Conclusão
Falência do Silicon Valley Bank e do First Republic e a fuga de depósitos para produtos mais rentáveis fizeram aumentar os receios de uma nova crise, mas a banca está numa situação mais favorável do que em 2007, antes da crise financeira do subprime. A generalidade dos bancos apresenta níveis de capitalização maiores, mas a procura por produtos de poupança mais rentáveis do que os depósitos tradicionais podem vir a representar uma preocupação para o sector.
De facto, as acções do U.S. Bancorp estão muito apetecíveis, pois pagam um yield elevado aos accionistas e apresentam rácios de valorização muito abaixo do normal:
Mas, pessoamente, tendo a concordar com Terry Smith…
… que, apesar de ter feito carreira na banca, nunca investe em bancos. Segundo ele, o colapso do Silicon Valley Bank e do Credit Suisse (que na prática foi resgatado pelo UBS e pelo Governo) provam o seu ponto de vista.
Qual é a sua posição?
Em suma, ele não investe em bancos porque (1) nunca investe em negócios que exijam grande alavancagem para ter retorno, como o da banca; (2) o risco sistémico da banca é elevado – mesmo que seja bem administrado, o banco pode falir após um pânico geral no sector; (3) as fintechs e as plataformas peer-to-peer podem suplantar a banca tradicional; e, (4) além disso, o retorno sobre o capital próprio dos bancos tem andado perto dos 10% (como demonstra a Lista Completa de Acções do Prudente).
Eu partilho destas preocupações, e mais algumas: a adopção do bitcoin standard em alguns países (por exemplo, em El Salvador), complexidade da contabilidade dos bancos (por vezes são caixas negras que nem os administradores compreendem), etc.
É certo que há bons bancos entre as empresas de maior yield da nossa lista e que o seu ROE tem vindo a crescer nos últimos anos, com o aumento das taxas de juro, mas de facto há riscos que devem ser levados em conta pelos accionistas na hora de investir.
Ainda assim, como o banco aparenta ser sólido e como há subscritores interessados em acções de bancos, vou manter o U.S. Bancorp na nossa Lista Completa de Acções.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.