Bom dia, caros investidores.
De vez em quando (excepto no Verão) gosto de fumar um cigarrinho (sou um caso raro de independência), mas as pessoas têm vindo a abandonar o consumo, pois a venda de tabaco tem caído em quase todos os países do mundo:
A propaganda das grandes empresas do sector segue essa tendência cultural, mas é estranho ver uma empresa de cigarros promover um futuro sem cigarros:
1. Apresentação
A Philip Morris International é uma holding, constituída em 1987, líder na fabricação e venda de cigarros, bem como de produtos smoke-free, dispositivos electrónicos associados e acessórios, entre outros produtos com nicotina. Além disso, a empresa envia versões da sua Platform 1 (dispositivo e consumíveis) para a Altria Group (que os revende):
A companhia está a liderar uma transformação na indústria do tabaco, na tentativa de criar um futuro sem fumo, desenvolvendo uma nova categoria de produtos de “risco reduzido” (segundo a propaganda), embora não isenta de riscos. De acordo com a empresa, esta é uma escolha “muito melhor do que continuar a fumar”. Por isso, o seu objectivo é substituir os cigarros tradicionais por produtos smoke-free…
… que, supostamente, fazem menos mal:
Esses produtos de risco reduzido (RRPs) não queimam tabaco, eles produzem um aerossol que contém quantidades muito menores de constituintes prejudiciais e potencialmente prejudiciais do que as encontradas na fumaça do cigarro, segundo a empresa. No site da PMI Science é possível consultar informações científicas sobre as suas 4 plataformas (tabaco aquecido e vaping) e sobre os esforços da Philip Morris no desenvolvimento de produtos com potencial de redução do risco associado ao uso do tabaco:
Apesar de estar a decrescer, o fumo tradicional ainda responde por 76% da receita total:
O Marlboro é o seu principal produto, mas o que mais cresce é o tabaco aquecido (+27,6%):
O Investors Information de Julho de 2021 contém imensa informação interessante sobre os produtos, os mercados, as taxas de imposto nos vários países, as plantações de tabaco, entre outras:
2. Principais Accionistas
Só existem grandes fundos entre os principais investidores:
3. Gráfico de Longo Prazo e Dividendos
A acção apresenta uma tendência ascendente, mas a cotação está próxima aos níveis de 2012-2013:
O crescimento do dividendo da Philip Morris é dos maiores entre os seus pares:
4. Evolução do Número de Acções e Valor de Mercado
Nos últimos anos, as recompras de acções próprias têm sido reduzidas, sendo o foco da empresa o pagamento do dividendo. A sua capitalização bolsista é de $155 B:
5. Informação Financeira
Há 10 anos que a receita não cresce…
… assim como os lucros:
Até 2014, o endividamento aumentou bastante, mas nos últimos 5 anos tem diminuído:
A avaliação das agências de rating é positiva:
6. Desenvolvimento
Apesar da previsão de crescimento para 2021…
… não vejo como os analistas possam estar certos do crescimento previsto até 2024, atingindo máximos históricos já em 2022:
É verdade que o “tabaco sem combustão” (principalmente o tabaco aquecido) tem vindo a ser cada vez mais adoptado…
… mas a quebra no tabaco tradicional (o mais representativo) é mais acelerada.
Considero que uma empresa que não cresce não deverá ter um price-to-earnings superior a 10x. Ou seja, ao EPS esperado, o preço da acção não deveria superar os $60. Actualmente, o PER está acima de 17x:
Acima de $79 por acção, eu evitaria qualquer compra (é possível que no futuro o dividend yield médio se torne ainda mais alto):
7. Conclusão
Apesar da Philip Morris pagar um bom dividendo, as perspectivas futuras do negócio parecem-me imprevisíveis. A nova narrativa antitabagista da Administração tem como objectivo a venda de Reduced-Risk Products (principalmente tabaco aquecido), cuja eficiência não está bem comprovada (há até acusações de fraude científica). O novo negócio smoke-free tem crescido, mas a quebra do tabaco tradicional tem impactado bastante a receita total.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico