Bom dia, caros investidores.
O banco Wells Fargo era um dos favoritos de Warren Buffett, mas após o escândalo das contas falsas em 2016, o investidor declarou publicamente, em várias ocasiões, a sua desilusão com as práticas de gestão do banco…

… tendo recentemente vendido a participação que detinha há 31 anos:
Vou continuar a análise, mas a quebra de confiança nos órgãos de gestão é um dos principais motivos que pode levar um investidor prudente de longo prazo a vender as suas acções.
1. Apresentação
O Wells Fargo & Company é o terceiro maior banco dos EUA:
A sua origem remonta a 1852, quando Henry Wells e William Fargo abriram os seus escritórios junto às minas de ouro, durante o gold rush, fornecendo serviços de transporte por carroça e serviços bancários.
Actualmente, o banco tem 4 segmentos operacionais:
- Consumer Banking and Lending
- Commercial Banking
- Corporate and Investment Banking
- Wealth and Investment Management
No final de 2020, havia $887,6 B de empréstimos, $ 1,4 T de depósitos e um património líquido de $ 185,9 B no balanço da companhia:
A maioria dos empréstimos estão orientados ao comércio e indústria (US) e aos particulares, nomeadamente para a aquisição da primeira casa:
Desde os escândalos de 2016 que o banco tem vindo a mudar a sua cultura e a estratégia de gestão, colocando os interesses do cliente em primeiro lugar, “fazendo o que é correcto”:
2. Principais Accionistas
Cerca de 70% dos investidores são institucionais:
3. Gráfico de Longo Prazo e Dividendos
O gráfico de longo prazo da acção é ascendente, mas com períodos de grande volatilidade:
No corona crash o preço bateu quase nos $20, estando agora a cotar perto dos $45:
A tendência dos dividendos também é ascendente, com duas fortes quebras em 2008 e 2020:
4. Evolução do Número de Acções e Valor de Mercado
Após a crise de 2008 houve uma grande emissão de novas acções, mas o banco tem vindo a recomprá-las:
O valor de mercado do Wells Fargo é de $186 B.
5. Informação Financeira
O ambiente dos últimos anos, caracterizado pelas baixas taxas de juro, tem impactado a receita, que há 10 anos não sai do lugar…
… mas o banco conseguiu passar pelas últimas duas grandes crises sem prejuízos:
O retorno sobre o capital próprio anda próximo dos 10% (média dos últimos 10 anos)…
… dentro da média da generalidade dos bancos.
Os rácios de capital (risk-based capital)…
… estão bem acima dos mínimos exigidos pelo Basel III:
6. Desenvolvimento
Há uns dias saiu uma notícia que me parece um “alerta vermelho”. O Wells Fargo está a fechar todas as linhas de crédito pessoal existentes, de acordo com a informação divulgada pela CNBC na quinta-feira passada:
Wells Fargo tells customers it’s shuttering all personal lines of credit
Os clientes receberam um aviso a indicar que dentro de 60 dias as suas contas seriam encerradas. A mudança ocorre um ano depois do banco ter suspendido os empréstimos para compra de casa própria, devido à pandemia, além dos empréstimos para clientes revendedores de automóveis.
Lembro-me de ter visto esse padrão em 2006-2007, antes do crash, quando as entidades de crédito começaram a fechar a torneira. Esta situação deixa-me naturalmente temeroso.
No entanto, os analistas estão moderadamente optimistas:
Para avaliar o preço da acção, prefiro olhar para a evolução do capital próprio, pois o seu crescimento é estável. A média do price-to-book dos últimos 10 anos é de 1,58x, tendo oscilado entre o mínimo de 0,51x e o máximo de 3,21x. Projectando as médias históricas para os valores actuais, podemos considerar que abaixo de $40 a acção encontra-se barata e acima de $100 cara:
7. Conclusão
As médias históricas de preço dizem-nos que a acção do Wells Fargo está barata. O banco tem uma estrutura de capital sólida e um histórico de sucesso, tendo passado pela crise de 2008 e 2020 sem prejuízos (e em 1929 nenhum dos seus clientes perdeu as poupanças depositadas). A inflação está a crescer e as taxas de juros podem vir a aumentar. Há economistas que esperam um período deflacionário antes da inflação, mas a opinião é relativamente consensual – os estímulos dos bancos centrais irão provocar inflação (o Fórum Económico Mundial fala até em hiperinflação). O aumento das taxas de juro oferece uma oportunidade para os bancos potenciarem os seus lucros, mas os custos também podem aumentar. Se estivesse à procura de um banco para investir, tentaria comprar uma instituição centenária, lucrativa, sólida e sem casos recentes de fraude. Ah, sim… e a bons preços! Comprar a acção mais barata, nem sempre é a melhor decisão. O importante é comprar qualidade sem pagar um preço demasiado alto.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico