Bom dia, caro investidor.
O acesso ao mercado brasileiro não é fácil para um europeu. Normalmente, alguém que não tenha sede no Brasil, consegue investir a partir de outras Bolsas e no mercado OTC. Por isso, tenho evitado analisar algumas das mais famosas empresas cotadas do Brasil, como a Klabin, que já me foi pedida por vários subscritores do Prudente, talvez por ter sido popularizada pelo Barsi, o Rei dos Dividendos:
Nesse vídeo da série «Por que Barsi investe?», o Rei dos Dividendos tece enormes elogios à Klabin, que tem uma história centenária e um controlo familiar (onde muitas pessoas dependente do dividendo para viver), e responde à questão do endividamento, que nos últimos 15 anos tem estado elevado:
Barsi não se assusta com o endividamento, dizendo que isso faz parte do DNA das empresas de celulose e que a administração sempre geriu bem os seus riscos. Além de analisar cuidadosamente os estatutos da empresa, Barsi costuma visitar as suas instalações:
Apesar de haver vários tickers com cotações distintas, vou usar como referência o título do mercado OTC americano…
- KLBN3 – acção ordinária – R$4,51
- KLBN4 – acção preferencial – R$4,52
- KLBN11 – units – pacote de acções composto por 1 acção ordinária e 4 acções preferenciais: R$22,43
- KLBAY – mercado OTC americano: $9,10 USD
… por ser mais conveniente à maioria dos subscritores do Prudente. Ainda assim, é difícil ter acesso. Pessoalmente, só tenho acesso ao KLBAY através da corretora Interactive Brokers.
1. Apresentação da Klabin
A Klabin é a maior produtora e exportadora de papel do Brasil. É uma empresa familiar centenária que produz celulose, papel e cartão para embalagens, embalagens de papelão ondulado e sacos industriais, além de comercializar madeira.
A trajectória centenária da Klabin S.A. teve início em 1899, quando foi fundada em São Paulo, pela família Klabin-Lafer, com o objectivo de comercializar produtos de papelaria e artigos de escritório e tipografia. Três anos depois, como os negócios prosperaram, a empresa arrendou uma pequena fábrica de folhas para impressão e entrou no segmento que a acompanha até hoje: a produção de papel.
Nos anos seguintes, a empresa adequou a sua produção aos padrões europeus, desenvolveu novas técnicas de produção, adquiriu fazendas, construiu fábricas (como a primeira fábrica integrada de papel e celulose do Brasil) e desenvolveu projectos de plantação florestal.
Actualmente, a Klabin é a maior produtora e exportadora de papel para embalagens do Brasil. E é a única empresa no Brasil a produzir e comercializar, através de uma única unidade industrial, três tipos de celulose: fibra curta, fibra longa e fluff. O seu portefólio inclui vários tipos de produtos…
… entre os quais se destacam os cartões, as embalagens e a celulose:
O Grupo está organizado em quatro unidades de negócios (Florestal, Celulose, Papéis e Conversão) certificados pelo Forest Stewardship Council (FSC) e possui 22 unidades industriais no Brasil, uma unidade industrial na Argentina e florestas em três Estados (Paraná, Santa Catarina e São Paulo):
Mantém também 14 escritórios em várias regiões do Brasil.
2. Principais Accionistas
Quem controla a Klabin é a família, através da Klabin Irmãos & Cia e da NIBLAK Participações S/A, que possuem conjuntamente 52,23% do poder de voto:
3. Gráfico de Longo Prazo e Dividendos
O Barsi comprou, há muitos anos, a acção a 17 cêntimos de real, e hoje cada acção ordinária vale 4,5 reais. Na última década, as cotações têm lateralizado:
A empresa paga dividendos e juros sobre o capital próprio…
… mas os detentores da acção cotada no mercado OTC americano (KLBAY) recebem tudo isso em forma de dividendos:
4. Evolução do Número de Acções e Valor de Mercado
Apesar do valor de mercado da Kalbin ser de aproximadamente R$25 B ou $5 B USD, o enterprise value anda perto dos R$46 B ou $10 B USD (linha preta do gráfico):
O número de acções permanece relativamente estável:
5. Informação Financeira
As receitas e o lucro estão no maior patamar de sempre, e os prejuízos são meramente contabilísticos. Por vezes, as variações cambiais afectam negativamente o lucro…
… mas os fluxos de caixa operacionais costumam ser sempre positivos. Além disso, espera-se que, no futuro, haja menos prejuízos, pois o Grupo adoptou recentemente estratégias de hedge cambial:
«Louise destacou ainda que no meio de 2021, a Klabin aprovou uma política de hedge (proteção) que anularia os efeitos contábeis da variação cambial e permitiria que aquela conta no patrimônio líquido fosse zerada. “Quase um ano depois, Klabin cumpriu o que prometeu e finalmente parece que conseguirá pagar bons dividendos trimestrais com consistência”»
As margens de lucro são baixas…
- Margem bruta (5y): 43%
- Margem líquida (5y): 7%
… tal como as taxas de retorno sobre o capital:
- ROE (5y): 11%
- ROCE (5y): 8%
Como já vimos, o endividamento está um pouco alto, mas a avaliação das agências de rating é stable:
- Moody’s | Ba1 | Estável
- Standard & Poor’s | BB+ | Estável
- Fitch Ratings | BB+ | Estável
6. Desenvolvimento
A unidade de Ortigueira (chamada “Puma”) foi inaugurada em 2016, e é uma das mais modernas e sustentáveis fábricas de celulose do mundo. A capacidade de produção anual de papel e celulose da Klabin é de 4,2 milhões de toneladas, e conta com o apoio de aproximadamente 25 mil colaboradores.
Em 2019, foi aprovado outro projecto de expansão – o Puma II, que prevê a instalação de duas máquinas:
Primeira máquina
As operações da primeira máquina de papel do projecto já arrancaram em 2021. A capacidade total das máquinas será de 910 mil toneladas anuais de papel. A primeira fase do projecto, já em operação, oferecerá ao mercado 450 mil toneladas de Eukaliner® por ano:
Segunda máquina
A segunda fase do projecto, cuja conclusão está prevista para o segundo trimestre de 2023, contempla a construção de uma linha de fibras complementar integrada a outra máquina de papel cartão, com capacidade para 460 mil toneladas anuais, das quais 105 mil toneladas serão destinadas para a produção de papel-cartão branco.
Com isto, os analistas prevêem que a receita passe dos actuais R$20 B para R$23,4 em 2027.
Como a variação do número de acções é relativamente estável, o net payout yield (5y) é semelhante ao dividend yield (5y):
7. Conclusão
Olhando para os dados da acção da Klabin no mercado OTC americano (KLBAY), verificamos que os dividendos por acção medianos a 5 anos deverão superar os actuais $0,39, se nos próximos dois anos o dividendo continuar a aumentar.
Mas vamos partir dos $0,39 (em USD).
Procurando comprar um dividend yield de 6%, e partindo do dividendo mediano ($0,39), não pagaria mais do que $6,5 por acção (está $9, no mercado OTC americano). Alguns poderão prever e projectar o crescimento do dividendo, considerando os investimentos em curso. Nesse caso, o actual dividendo por acção ($0,55 ttm) justifica a compra a $9, isto é, ao preço actual.
Barsi já disse que a Klabin está de graça e já disse que não comprava aos preços actuais. No meio de tantas contradições, é difícil discernir qual a postura do Rei dos Dividendos. É certo que, olhando para os dados do projecto Puma II, as perspectivas são de crescimento. Mas uma coisa é certa: eu não pagaria mais do que os $9 actuais.
Muita coisa haveria a dizer sobre esta empresa, mas o tempo é escasso. Continuarei a acompanhar a Klabin na Lista Completa do Prudente.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
2 respostas
Para compreender melhor a empresa aconselho a leitura de “A Saga da familia Klabin-Lafer”
Exacto. O Barsi também recomendou – https://bit.ly/3PjGwVQ