Bom dia, caro investidor.
A sueca Ericsson foi-me recomendada por um subscritor que me enviou a seguinte mensagem:
Considerando que a Ericsson fornece material à TELENOR e a dezenas, senão centenas, de outras empresas do setor, que um dos principais motivos para a cotação do ticker ter descido tanto foi um escândalo de corrupção que não deverá voltar a acontecer porque já há ações em curso para evitar que isso volte a suceder e que a empresa beneficia com a guerra geopolítica entre EUA e China com restrições em vários países ocidentais à Huawei, sugiro esta análise.
De facto, desceu bastante!
Eu já tinha olhado para a Ericsson na análise que fiz à Industrivarden, uma holding sueca que gere participações em empresas nórdicas numa perspectiva de investimento a longo prazo, e que à data detinha quase SEK 9 B da Ericsson…
… mas agora terei oportunidade para analisá-la mais profundamente.
1. Apresentação da Ericsson
A Telefonaktiebolaget LM Ericsson (STO: ERIC-A; ISIN: SE0000108649) é uma empresa de tecnologia sueca que fabrica equipamentos de telecomunicação fixa e móvel.
A empresa foi fundada em 1876 por Lars Magnus Ericsson como uma loja de reparação de telégrafos. Ao longo das décadas moldou a indústria de telecomunicações, tendo sido a primeira empresa a usar o termo “smartphone” e a desenvolver o bluetooth:
Antes do iPhone, os telemóveis Sony Ericsson (em parceria com a Sony) chegaram a ser um dos mais desejados pelos consumidores.
Hoje, a Ericsson é uma das principais empresas da área da tecnologia da informação e comunicação, com um portefólio que abrange soluções de redes, software, serviços na cloud, soluções empresariais sem fio, uma plataforma global de comunicações, novos negócios e licenciamento de direitos de propriedade intelectual.
Entre os principais segmentos…
… destaca-se o “Networks” (71% das vendas)…
Networks offers multi-technology capable Radio Access Network (RAN) solutions for all network spectrum bands, including integrated high-performing hardware and software. The offering also includes a cloud-native RAN portfolio, a transport portfolio, passive and active antenna solutions and a complete service portfolio covering network deployment and support.
… e o “Cloud Software and Services” (22% das vendas):
Cloud Software and Services provides solutions for core networks, business and operational support systems, network design and optimization, and network managed services. The focus is to enable communications service providers to succeed in their transition to cloud native, intelligent and automated networks and operations.
Os restantes segmentos – que incluem a plataforma Vonage (adquirida em 2022), soluções sem fios, serviços financeiros, soluções de segurança, publicidade, etc. – são pouco representativos:
Segment Enterprise represented 6% (3%) of Group net sales in 2022. The segment comprises of three Business Areas offering solutions primarily to Enterprise: Global Communications Platform (Vonage) including cloud-based Unified Communications as a Service (UCaaS), Contact Center as a Service (CCaaS) and Communications Platform as a Service (CPaaS); Enterprise Wireless Solutions including private wireless networks and wireless WAN (Cradlepoint) pre-packaged solutions; Technologies and New Businesses including mobile financial services, security solutions and advertising services.
Segment Other represented 1% (1%) of Group net sales in 2022. Segment Other includes media businesses as well as other nonallocated business.
Na América do Norte, que é o seu principal mercado…
– North America 35%
– Europe and Latin America 25%
– Middle East and Africa 8%
– South East Asia, Oceania and India 12%
– North East Asia 10%
– Other 10%
… o segmento “Cloud Software and Services” cresceu 10% motivado pelo 5G.
2. Principais Accionistas
A empresa tem duas classes de acções (as “B Shares” só dão direito a um décimo de voto) e o ADR na NASDAQ (que representa as “B Shares“):
The Ericsson share is listed on Nasdaq Stockholm and on Nasdaq New York. The shares are divided into A shares and B shares. One A share carries one vote at Annual General Meetings and one B share carries one tenth of a vote. Dividends are the same for both classes of shares.
In the United States, the Class B shares are listed in the form of American Depositary Shares (ADS) evidenced by American Depositary Receipts (ADR). Each ADS represents one Class B share.
Ticker codes
- Nasdaq Stockholm: ERIC A/ERIC B
- Nasdaq New York: ERIC
Quem detém o maior poder de voto são estas duas grandes holdings suecas – Investor AB e AB Industrivarden:
3. Gráfico de Longo Prazo e Dividendos
Há 20 anos que a acção não sai do canal dos SEK 50-130…
… mas costuma pagar dividendos de forma recorrente, apesar do corte que ocorreu em 2017 (o primeiro desde 2008)…
… devido aos prejuízos:
4. Evolução do Número de Acções e Valor de Mercado
O número de acções mantém-se relativamente estável…
… e o valor de mercado caiu para SEK 193 B (que corresponde a $17 B USD).
5. Informação Financeira
A receita encontra-se no máximo histórico…
… mas o lucro líquido ainda não ultrapassou a máxima de 2006:
Börje Ekholm – o actual presidente e CEO da companhia, que assumiu o cargo em 2017, após os enormes prejuízos de SEK 32,5 B – teve de enfrentar a pior crise da década da Ericsson, face ao encolhimento dos mercados e à concorrência acirrada da chinesa Huawei e da finlandesa Nokia.
As margens de lucro não são muito elevadas, apesar de terem crescido nos últimos 5 anos…
- Margem bruta (5y): 40%
- Margem líquida (5y): 7%
… e o retorno sobre o capital é aceitável:
- ROE (5y): 15%
- ROCE (5y): 14%
A dívida líquida é baixa (SEK 11,7 B). Normalmente, costuma ter net cash no balanço.
6. Desenvolvimento
Recentemente, a Ericsson pagou uma multa de $206,7 M para encerrar os casos de corrupção…
… mas o novo CEO (tendo certamente o apoio dos principais accionistas) procurou limpar a própria casa, realizando uma investigação interna. Ekholm concluiu que a Ericsson não foi responsável por pagamentos a organizações terroristas no Iraque, embora possa ter havido suborno por parte de alguns funcionários, e levou a cabo muitas mudanças desde 2017.
Os analistas mantêm perspectivas optimistas em relação ao crescimento do dividendo…
… mas o net payout mediano (dividendos + buybacks) é baixo…
… proporcionando um yield de apenas 2,3%.
7. Conclusão
Eu não sei se a tecnologia 5G da Ericsson tem algum fosso competitivo face à tecnologia da Nokia, da Samsung e da Huawei, e que concorrentes poderão querer disputar o seu mercado. Isso exigiria um elevado nível de especialização na área.
Quando olhei para a queda das cotações que ocorreu após 2021, pensei que os yields fossem maiores…
- Net payout yield (5y) = 2,3%
- Dividend yield (5y) = 2,6%
- Dividend yield (ttm) = 4,4%
- FCF yield (ttm) = SEK 9.205 M / SEK 193.137 M = 4,8%
… embora o FCF yield mediano a 5 anos seja elevado, face ao enterprise value (SEK 193.137 M):
- FCF yield (5y) = SEK 23.623 M / SEK 193.137 M = 12,2%
Se a empresa conseguir recuperar a médio e longo prazo esses fluxos de caixa, a acção poderá valorizar e voltar aos níveis anteriores.
Eu não vejo muitos motivos para manter esta empresa na Lista Completa de Acções do Prudente, a não ser pelo dividendo que a empresa paga, de forma recorrente, há já muitos anos.
No próximo ano, o dividendo mediano por acção deverá aumentar (para SEK 2,00). Exigindo um dividend yield de 6%, não compraria esta acção acima de SEK 33, abaixo do valor do capital próprio por acção (perto da linha inferior do gráfico seguinte):
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
4 respostas
Interessante Hélder, e uma nova visita à Nokia e ao seu turnaround plan posto em prática pelo Pekka Lundmark, novo CEO?
Abraço e continuação de um excelente trabalho
Olá, António. Sim… vou colocá-la na lista de espera para analisar. Obrigado pela sugestão.
Olá Hélder,
Um concorrente direto ao nível de fornecimento de equipamentos para redes móveis, nomeadamente na tecnologia 5G é a Nokia. Com o plano de exclusão da Huawei na Europa haverá muito negócio nos próximos anos para estas duas empresas.
Parece-me que uma análise à Nokia seria relevante.
Olá, Marco.
Como respondi ao António, vou colocá-la na lista de espera para analisar. Estou a ver que há muito interesse na Nokia. Obrigado pela sugestão.