Na última passagem pelas acções da bolsa italiana, fiquei impressionado com a Ferrari e o seu retorno sobre os activos (acima de 10%)…
… e com a sua margem de lucro líquida…
… valores anormalmente elevados para o sector em questão. Vejamos se a acção é tão rápida quantos os seus carros.
1. Apresentação
A Ferrari desenvolve e fabrica alguns dos carros mais icónicos e reconhecidos do sector automóvel, estando entre as principais marcas de luxo do mundo. A empresa leva o nome do seu fundador, Enzo Ferrari, que era piloto da Alfa Romeo em 1924, tendo posteriormente fundado a sua própria equipa de corrida em 1929, a Scuderia Ferrari. Em 1939, ele criou uma empresa chamada Auto Avio Costruzioni, produzindo o seu primeiro carro de corrida em 1947 (o 125 S). E depois não parou:
- em 1948, produziu o primeiro carro de estrada (o Ferrari 166 Inter);
- em 1950, participou no Campeonato Mundial de Fórmula 1, o que torna a Scuderia Ferrari na equipa de Fórmula 1 mais antiga do mundo;
- em 1969, o grupo Fiat adquiriu uma participação de 50%, aumentando a sua participação para 90% em 1988 após a morte de Enzo Ferrari, com os 10% restantes detidos pelo filho de Enzo Ferrari, Piero Ferrari;
- em 2016, a Ferrari tornou-se uma empresa independente de capital aberto após sua separação da FCA (renomeada Stellantis em Janeiro de 2021, após a fusão da Peugeot SA com a FCA);
- actualmente, a empresa tem sede na Itália, estando incorporada na Holanda, com as acções cotadas na bolsa de Nova York e Milão. O ticker é engraçado: RACE.
O segmento principal é a venda de carros e componentes relacionados…
… que inclui a gama desportiva, a gama GT, as séries especiais e a Icona:
Os motores V8 e o segmento sport & special são os mais representativos…
… estando as vendas concentradas na Europa e nas Américas:
O número de carros entregues tem vindo a aumentar…
… e a marca absorve uma importante fatia do mercado de carros de luxo:
Os seus modelos actuais incluem o 812 GTS, o Ferrari F8 Tributo, o Ferrari F8 Spider, o 296 GTB…
… além do SF90 Stradale e do SF90 Spider, os primeiros modelos eléctricos híbridos plug-in (PHEV):
A empresa compete com outras marcas relevantes, como a Lamborghini, McLaren, Porsche, Mercedes, Aston Martin, Audi, entre outras.
A Ferrari promove a marca e fortalece a relação com a sua comunidade de entusiastas através de uma série de iniciativas: venda de merchandising, os parques temáticos (Ferrari World), os museus, os eventos, que agora até incluem desfiles de moda com assinatura da Ferrari…
… a venda de automóveis com acesso preferencial a proprietários actuais (tenho um amigo que comprou um Ferrari usado para poder comprar outro novo exclusivo)…
(…) in 2021 we sold approximately 59% of our new cars to already Ferrari customers and 32% to customers being current owners of more than one Ferrari, which reinforces the demand for our cars and the image of luxury and exclusivity inherent in our brand.
… as corridas de Fórmula 1…
Our brand image depends in part on the success of our Formula 1 racing team.
… etc.
2. Principais Accionistas
O Piero Ferrari é o segundo maior accionista, sendo a EXOR a mais influente, podendo haver aqui potenciais conflitos de interesse com a Stellantis:
Mr. John Elkann, our Executive Chairman, is the Chairman and an executive director of Stellantis and Chairman and Chief Executive Officer of Exor
Os dois detêm a maioria dos direitos de voto, controlando a companhia:
3. Gráfico de Longo Prazo e Dividendos
A tendência da acção é ascendente…
… e a empresa paga dividendos regulares:
4. Evolução do Número de Acções e Valor de Mercado
Além dos dividendos, os accionistas têm sido remunerados através da recompra de acções próprias desde 2017:
A Ferrari vale quase €33 B em bolsa.
5. Informação Financeira
A receita cresce quase 7% ao ano…
… e o lucro líquido encontra-se no máximo histórico:
O endividamento é baixo…
… e se excluir a dívida líquida relacionada com os serviços financeiros da empresa…
… o endividamento (industrial) é ainda menor:
6. Desenvolvimento
A introdução de tecnologia híbrida e eléctrica nos Ferraris é cara, e o seu sucesso a longo prazo é incerto. Os gastos com pesquisa e desenvolvimento dos próximos anos deverão aumentar, criando riscos acrescidos, pois o aumento de custo terá de se reflectir no preço dos carros, não havendo certezas acerca do retorno do investimento. O impacto na experiência de condução e no valor residual dos carros podem afectar adversamente os resultados da empresa. Este último factor é importante, pois quando os clientes compram um Ferrari, levam em consideração o valor de revenda esperado. Além disso, um valor residual mais alto reduz potencialmente o custo da compra de um novo modelo, apoiando a fidelização do cliente e promovendo compras recorrentes. Apesar destes riscos, a companhia acredita que essa tecnologia permitirá fornecer melhorias contínuas de desempenho e atender às preferências dos compradores.
A guidance para 2022…
… está alinhada com a dos analistas, que estão optimistas até 2024:
O PER22 encontra-se nos 38x, acima dos valores normais de mercado:
During the past 10 years, Ferrari NV’s highest PE Ratio without NRI was 64.69. The lowest was 20.96. And the median was 35.35.
É uma acção muito cara! Calculando a remuneração que os accionistas receberam em forma de dividendos e buybacks, obtenho uma mediana de €1,66 por acção…
… que oferece um yield muito baixo, inferior a 1%.
7. Conclusão
A grande vantagem competitiva duradoura da Ferrari é a sua marca icónica. Só por isso já vale a pena guardar esta empresa na lista de acções Prudentes. No entanto, os riscos associados ao processo de electrificação (com a potencial perda do valor residual dos carros) e o alto preço das acções impedem-me de a considerar um bom investimento no momento actual. Se o net payout melhorar e se a acção cair para perto do price-to-sales mínimo (próximo a 2x), será um investimento a ponderar:
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico