No Prudente, procuro sempre empresas com vantagens competitivas duradouras que possam interessar ao investidor de longo prazo, cujo perfil não é igual ao do trader, que compra a pensar logo em vender. Investidor é aquele que pretende associar-se a um projecto, como se fosse um pequeno dono, e um dono de um negócio não pensa normalmente em vendê-lo, a não ser que receba uma oferta irrecusável ou tenha uma ideia melhor de investimento.
As pessoas necessitam sempre de canos… sim, canos, canalizações – nos esgotos, nas torneiras de casas, nos equipamentos de ar-condicionado, etc. E essas infra-estruturas são sempre necessárias; quando se estragam, necessitam de substituição. Sim, é um mercado fragmentado, mas encontrei uma empresa que parece querer monopolizar várias áreas onde os canos são necessários – a Ferguson.
1. Apresentação
A Ferguson (anteriormente chamada de Wolseley) é uma multinacional britânica-americana, com sede na Inglaterra, distribuidora de produtos de canalização e aquecimento.
O negócio da Wolseley começou em 1887 como fabricante de máquinas de tosquia de ovelhas, tendo passado pela indústria de construção de carros e peças de reposição. Em 2017, a Wolseley anunciou que mudaria o nome para Ferguson, porque quase todos os seus negócios estavam agora nos Estados Unidos, apesar de ter continuado a usar o nome “Wolseley” no Reino Unido e Canadá. A empresa mudou a sua listagem primária para os EUA e, consequentemente, deixou de ser um constituinte do índice FTSE 100 no dia 12 de Maio de 2022. Estes são os tickers e o código ISIN:
- ISIN: JE00BJVNSS43
- LSE (Londres): FERG
- NYSE (Nova York): FERG
A empresa distribui várias marcas de produtos de forma exclusiva, muitas delas de marca própria…
… sendo líder em vários mercados, nomeadamente nas canalizações para edifícios residenciais e comerciais, esgotos e sistemas de protecção contra fogos:
A maioria dos clientes pertence ao segmento residencial e de manutenção, embora os clientes não-residenciais e as novas construções sejam muito representativos…
… principalmente nos EUA:
2. Principais Accionistas
Entre os principais investidores só há grandes fundos de investimento:
3. Gráfico de Longo Prazo e Dividendos
Na Bolsa de Nova York, a acção parece andar de lado…
… mas em Londres já é perceptível a sua tendência ascendente, apesar da elevada volatilidade:
A empresa paga dividendos regulares desde 2011, após ter suspendido a distribuição entre 2008 e 2010 na crise do subprime.
4. Evolução do Número de Acções e Valor de Mercado
Além de distribuir dividendos, recompra acções próprias. Entre 2013 e 2022, o número de acções em circulação caiu mais de 15%:
A Ferguson vale quase $26 B em bolsa.
5. Informação Financeira
A receita apresenta uma tendência ascendente de longo prazo, apesar da quebra que houve entre 2008 e 2016…
… mas o lucro líquido encontra-se actualmente no máximo histórico ($2,1 B ttm):
O retorno sobre o capital próprio é normalmente elevado…
During the past 13 years, Ferguson’s highest ROE % was 44.00%. The lowest was 1.71%. And the median was 22.00%.
… e o endividamento é baixo:
6. Desenvolvimento
O objectivo da companhia é tornar-se líder de mercado, que é por natureza bastante fragmentado. Por isso é que a empresa tem cerca de 100 empresas debaixo de olho, nas quais pretende investir, sendo o objectivo da aplicação do caixa o investimento, a aquisição de negócios e a remuneração aos accionistas, tanto pela via dos dividendos como pelos buybacks (algo que procuramos aqui no Prudente):
Com essa estratégia, a Ferguson pretende crescer 7-12% ao ano…
… valores que estão de acordo com a perspectiva de crescimento da receita considerada pelos analistas (7,9% ao ano):
O lucro dos últimos anos cobre a remuneração que os accionistas têm recebido em forma de dividendos e buybacks no valor de aproximadamente $3,26 por acção…
… que, à cotação actual, proporciona um yield de 2,7%
7. Conclusão
Por mais de uma década, a prioridade da Ferguson permaneceu firmemente focada no investimento (principalmente através de aquisições de outras empresas), no crescimento do dividendo e na realização de buybacks, mantendo o balanço robusto e o endividamento controlado (Net Debt/EBITDA entre 1x e 2x).
O negócio é interessante para o longo prazo – canos vão sempre ser necessários – e a estratégia dos gestores parece-me acertada. No entanto, devido à sensibilidade do negócio às condições económicas, principalmente durante as recessões, o ideal seria comprar um yield mínimo de 6%, abaixo de $55 por acção. Em 2020, a acção esteve abaixo desse valor:
Não pagaria certamente um preço superior a $105 (um múltiplo acima de 22 vezes o lucro mediano dos últimos 5 anos) e teria cuidado com preços acima de $200 (no início do ano esteve a $180!!!).
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico