Este artigo resultou da análise publicada às acções de empresas mineiras, e reúne várias ideias e conceitos importantes relacionados com o mercado do ouro. Estará, por isso, em permanente actualização. Qualquer contributo adicional pode ser remetido pelos leitores do Prudente para helder@investidorprudente.com
Porquê o Ouro?
Desde há muito tempo, em todo o mundo, o ouro foi usado como reserva de valor. Já as nossas avós o compravam. Apesar de não ser um activo produtivo (como as acções, os terrenos agrícolas, os imóveis, etc.), o ouro sempre funcionou muito bem como meio de preservação da poupança. Nos últimos milénios, várias moedas com estatuto de reserva faliram, mas o ouro manteve sempre a sua função:
Mercado do ouro/prata
J.P. Morgan dizia que “ouro é dinheiro, tudo o resto é crédito”:
Gold is money, everything else is credit.
Quem diz “ouro”, diz “prata”, embora esta seja um produto mais industrial, que, por apresentar um baixo índice de stock-to-flow…
Silver’s stock-to-flow ratio is created by dividing the amount of silver that has been mined throughout history, or its “stock,” by the amount of silver mined each year, also known as its “flow.” Silver’s stock-to-flow ratio is used to measure silver’s scarcity or abundance relative to other resources. Therefore, the higher the stock-to-flow ratio, the more scarce a resource is and vice versa.
… é inferior ao ouro como reserva de valor. Ainda assim, recomendo a leitura do relatório de 2020 do Silver Institute, para aprofundar o conhecimento relativo ao sector da prata.
Antes de mais vamos ver o gráfico de longo prazo do ouro…
… e da prata:
Ambos os metais serviram como moeda e matéria prima para a indústria. O fim do gold standard, o abandono de Bretton Woods e o aumento da oferta monetária fizeram os preços do ouro e da prata disparar.
Considerando a relação histórica entre a Base Monetária americana per capita e o preço do ouro…
… bem como a actual Base Monetária, não seria de estranhar ver o preço do ouro (que está a $1.736/oz, à data desta análise) subir até aos $5.000 (ou mais… $15.000… $20.000… não sabemos qual o efeito das políticas monetárias actuais dos Bancos Centrais). Por conseguinte, a prata, que tem uma relação histórica de 16:1 em relação ao ouro e que nos últimos tempos ascendeu até aos 120:1 (aproximadamente)…
… também tem um grande potencial de subida. Se o ouro chegar aos $5.000/oz e o «gold/silver ratio» voltar a perto de 1:50, a prata (que hoje está a $17,7/oz) pode vir a ultrapassar os $100/oz. Parece-me que a prata está mais desvalorizada do que o ouro, e que o seu potencial de subida é maior. Além disso, actualmente apenas são produzidas 8 onças de prata para cada onça de ouro…
… a produção mineira de prata tem vindo a cair desde 2015…
… e repare-se que a oferta de prata actual tem caído a uma velocidade superior à da procura. Em relação aos all-in sustaining costs (AISC) – ou seja, aos custos totais de produção (incluindo capex) – tínhamos, em 2019, valores de $11,47/oz (muito próximo dos preços de mercado de 2020):
Abaixo desse valor, mais vale fechar as minas e esperar que o preço suba para voltar a produzir. E como as minas demoram a produzir, os preços explodem. Por isso é que a reciclagem de prata tem vindo a aumentar desde 2015, e mesmo considerando o impacto da COVID-19, a produção terá uma queda expectável de apenas 0,3%:
O timing actual é excelente para investir em prata, mas gerir um stock físico de metais é complicado, e os ETF´s de ouro e prata, ainda que garantam o colateral físico dos metais, guardando-os num cofre suíço, londrino ou americano (com contagem frequente e manual), podem conter altos custos de administração e riscos desconhecidos (sem falar noutros produtos financeiros – futuros, CFDs, spread betting, ETFs sem activos físicos, gold credit cards, etc.).
Uma excelente alternativa é o investimento em acções do sector, pois são títulos que garantem a propriedade das empresas aos investidores. Basta ver o que aconteceu às mining stocks no crash de 1929:
Subiram mais de 1.000%!
Positive Swap Line Nations
Marin Katusa publicou no site da Kitco um artigo sobre um conceito muito interessante: “positive swap line nations“…
… isto é, os países onde existem linhas SWAP da Reserva Federal dos EUA. Na prática, estamos a falar de países aliados dos EUA, onde a mineração é preferível.
Compras do Banco Central russo e chinês
Uma swap line é um acordo entre dois bancos centrais ou países para troca de moedas ou outros produtos financeiros.
No caso do ouro, é importante verificar se as minas das empresas se encontram maioritariamente nas positive swap line nations (isto é, em países amigos do tio Sam)…
… e não em países problemáticos (tipo China, Irão, Zimbábue, etc.).
A tensão entre o bloco eurasiano (Russia+China) e o bloco ocidental (EUA) deverá persistir por muito tempo. Por conseguinte, as compras do Banco Central russo e chinês (principalmente) deverão também continuar:
Mas seriam necessários vários anos (ou até décadas) para que esses países se posicionassem no topo dos holders:
Diferença entre resources e reserves
Qual é a diferença entre recursos e reservas?
- Reserves – todos os minerais e rochas cuja exploração é economicamente viável.
- Resources – além das reservas, inclui os depósitos que actualmente não são viáveis para exploração (mais tarde, estes poderão vir a ser reservas também).
Conceito de proven, probable, indicated e inferred reserves
As reservas de minérios podem ser comprovadas, prováveis, indicadas ou inferidas:
- Proven – reservas que uma empresa espera extrair com razoável certeza.
- Probable – reservas que uma empresa espera extrair com menor certeza, mas com alguma probabilidade.
- Indicated – reservas cujas estimativas (de qualidade ou quantidade) foram comprovadas através de trabalhos geológicos detalhados e através de projecções geológicas razoáveis (extrapolação).
- Inferred – reservas cujas estimativas (de qualidade ou quantidade) são baseadas apenas em algumas evidências e projecções geológicas.
All-in sustaining costs (AISC)
Os all-in sustaining costs (AISC) são uma métrica usada pelas empresas de mineração para relatar seus custos totais de mineração:
- Conceito de All-in sustaining costs (AISC)
Se estes custos superarem de forma consistente o preço do minério, a mineração deixa de ser sustentável. Por exemplo, no caso do ouro a média de mercado dos AISC no primero trimestre de 2020 era de $975 por onça…
… um valor inferior ao preço de mercado que tornava a mineração lucrativa.
Paper Gold
Vejamos o tamanho do mercado de “paper gold” (o mercado de derivados do ouro) e a sua relação com o preço do ouro.
Como disse Bill Holter:
“(…) há 382 pessoas que pensam que possuem uma onça de ouro, mas, na realidade, apenas uma pessoa a possui.”
De acordo com o website Gold Charts R Us, em 2015, a relação entre a quantidade de contratos de ouro negociados diariamente no mercado de derivados e a oferta física de ouro (new supply) era de 309 para 1:
E a quantidade de ouro negociada nos maiores mercados de derivados, como a LBMA e a COMEX ?
A maioria desses contratos é transaccionada em forma de cash (na data de vencimento do contrato, a mercadoria não é entregue). Mas quanto subiria o preço do ouro se os titulares desses contratos decidissem liquidar fisicamente o compromisso, adquirindo o ouro físico, não havendo stock suficiente?
Estes dados estão desactualizados, mas hoje a situação deve ser ainda pior.
Perspectiva de queda da oferta mundial de ouro até 2030
A cotação do ouro tem vindo a corrigir desde Agosto de 2020, quando atingiu o máximo a $2070,05/oz…
… tendo já caído 10,09%. Não sei quanto tempo poderá durar esta correcção, nem qual a extensão (deixo esse trabalho para os analistas técnicos e para os seus fibonacci retracement levels). Os pressupostos de longo prazo mantêm-se.
Como cobertura de risco, o ouro é um activo eficaz…
… óptimo para os tempos actuais, em que se perspectiva uma quebra da oferta (entre 2020-2029):
Distinção entre Streams e Royalties
Estes conceitos são semelhantes, pois ambos atribuem direitos aos investidores que aplicam capital nos projectos mineiros, mas têm nuances jurídicas que os distinguem. Os royalties são ganhos que correspondem a uma percentagem da receita gerada numa mina. Já os streams são ganhos que correspondem a uma percentagem de minério devido pela participação no capital de uma mina.
Streams and Royalties – What’s the difference?
Streams – A metal stream is a purchase agreement that provides, in exchange for an upfront deposit payment, the right to purchase all or a portion of one or more metals produced from a mine, at a price determined for the life of the transaction by the purchase agreement.
Royalties – A royalty is a non-operating interest in a mining project that provides the right to a percentage of revenue or metal produced from the project after deducting specified costs, if any.
É possível investir em ouro através de ETFs?
Sim, embora seja sempre necessário saber se a instituição detém o ouro físico guardado num cofre seguro, conhecer o método de contagem, os custos de armazenamento e custódia, confiar na instituição que administra os activos físicos e confiar no país onde estão localizados os activos.
Alguns exemplos de ETFs:
Onde se pode acompanhar a evolução do preço do ouro?
No site https://goldprice.org temos as cotações actualizadas do ouro e da prata em várias moedas e unidades de medida.
Data da última actualização deste artigo: 02/10/2023
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.